«Sempre admirei muito Nesta porque marcou uma nova maneira de defender e jogar à bola. Ele sempre foi elegante e tinha o timing perfeito. Era um modelo a seguir. Tive a sorte de cruzar-me com ele em campo e foi a primeira vez na minha vida em que me emocionei, quando pedi a uma lenda como ele para que trocasse de camisola comigo»
A frase pertence a Leonardo Bonnuci, central que pertence a uma era gloriosa da Juventus, dita pouco depois do histórico defesa trocar Turim por Milão, em 2017/18, e mostra toda a admiração por um colega de profissão que escreveu uma bonita página de história no campeonato italiano: Alessandro Nesta. Um laziale de coração que conquistou tudo no AC Milan e que espalhou toda a sua elegância em mais de 400 jogos na Serie A, em 20 anos de carreira.
Considerado um dos melhores centrais de todos os tempos, Nesta era mais do que um simples defesa. Fisicamente forte e imponente no seu raio de ação, com um sentido posicional de valor acrescentado e uma leitura de jogo que lhe permitia anular os adversários nas mais diversas situações de 1x1, também se evidenciava pela capacidade que tinha para sair a jogar a partir de trás. Perante todas estas qualidades, houve quem o comparasse até a Franco Baresi.
Roma? Sim, mas no lado biancocelesti
Oriundo de uma família com forte ligação emocional à Lazio, Nesta foi seguido de perto na sua juventude por um olheiro da AS Roma – Francesco Rocca – que tentou, sem sucesso, contratar o pequeno Alessandro. Não o conseguiu por culpa do pai do então jovem defesa, um confesso admirador laziale, que queria ver o filho na Prima Squadra della Capitale. Um desejo concedido em 1985. Ingresso concretizado na Lazio, onde começou por desempenhar funções do meio-campo ao ataque, antes de chegar ao seu posto natural: o eixo da defesa.
A Taça de Itália foi o primeiro de muitos títulos conquistados em Itália e teve contribuição direta do central, que marcou um dos golos da vitória ante o Milan (3x1), na época 97/98. A boa campanha concedeu-lhe um lugar na squadra azurra de Cesar Maldini no Campeonato do Mundo de 98, ao lado de Cannavaro, Costacurta e Paolo Maldini, dois anos depois de ter sido campeão europeu de sub-21. Lesionou-se na última jornada da fase de grupos e ficou seis meses afastado dos relvados.
No regresso após lesão, Nesta ainda ajudou a Lazio a fazer uma reta final de campeonato sensacional, mas uma derrota no dérbi capitolino, no qual o defesa acabaria expulso, deu início à queda e consequente perda da Serie A por… um ponto. Escapou nessa temporada, mas na época seguinte, no ano do centenário do clube, assistiu-se a algo extraordinário.
Mas o pior estava para chegar, em 2002. Ou o melhor.
A saída amargurada para a eternidade em Milão
«O meu sonho era jogar para sempre na Lazio, mas não houve essa possibilidade. A Lazio teve que me vender para ganhar dinheiro, mas passou a ideia de que eu é que queria sair. Isso magoou-me muito»
Mágoa para trás das costas, Alessandro Nesta era um jogador de créditos firmados na chegada a Milão. O histórico Baresi não tinha dúvidas: «Não há ninguém melhor que Nesta, em Itália, atualmente. O clube pode ficar descansado, pois esta posição [central] estará protegida durante muito tempo.»
Voltaria mais forte e, ao lado do brasileiro Thiago Silva, conquistou a Serie A de 2010/11, um ano antes de ceder aos avisos físicos. Saiu do Milan no mesmo ano que Clarence Seedorf, Pippo Inzaghi, Gattuso e Andrea Pirlo. Várias perdas de valor inquestionável.
«Nesta é um grande homem e ajudou-me muito nestes últimos anos em que jogamos juntos. É muito bom para a equipa, tanto para o jogo como para o ambiente do balneário. O Milan perde duas vezes com a sua saída», dissera Thiago Silva.
Experiência no Canadá e na… Índia
«Quero agradecer a todos aqueles que trabalharam comigo aqui em Milão. Claro que vou sentir falta dos meus companheiros de história, como Ambrosini, Gattuso, Seedorf, Maldini, Costacurta e Andrea. Vim de Roma para Milão e aqui senti-me melhor do que em casa, embora tenha deixado o meu coração na Lazio»
«É um pedaço de história que está a ir embora, um pedaço da história do futebol italiano. Não é fácil encontrar jogadores italianos deste calibre. A nível técnico, humano, tático, ele é um dos poucos jogadores inesquecíveis do futebol italiano. Ele revigorou a tradição de grandes centrais no AC Milan, que remonta ao tempo em que comecei a jogar há 20 anos», disse Paolo Maldini após a partida do seu ex-companheiro.