O primeiro dia do ano de 1968 trouxe ao mundo aquele que viria a ser um dos maiores talentos da antiga Jugoslávia. Filho de Tomislav, medalha de ouro de arremesso de peso nos Jogos do Mediterrâneo de 67, Davor Suker cresceu lado a lado com o desporto, destacando-se no futebol profissional, enquanto a sua irmã Nevenka foi uma talentosa jogadora de voleibol dos Balcãs.
Os primeiros pontapés na bola foram dados na terra natal, em Osijek, estreando-se na principal liga do país com apenas 16 anos, precisamente no NK Osijek. Na etapa inicial era frequentemente criticado pela sua falta de ritmo e força, por uma certa incapacidade de cabecear a bola e ter um pé direito desastroso, mas a verdade é que Suker conseguiu tirar o melhor proveito do seu pé esquerdo formidável, que compensava todas as outras carências do ponto de vista técnico, mais tarde desenvolvidas, fazendo dele um dos melhores avançados do continente europeu na década de 90.
Suker integrou a lendária equipa nacional jugoslava de sub-20 de 1987, aquela que conquistou o ouro no Mundial da categoria no Chile, onde nomes como Zvonimir Boban, Robert Prosinečki, Predrag Mijatović e, claro está, Davor Suker, bota de prata da competição, se apresentaram ao Mundo.
O Dinamo Zagreb ganhou a corrida ao Partizan pela contratação do melhor marcador do Campeonato jugoslavo, em 1988/89. Dois anos de confirmação absoluta de um talento ímpar e, em particular, o conflito militar que devastou os Balcãs em 1991, resultaram na saída para o campeonato espanhol, onde Suker escreveu uma das páginas mais importantes e bonitas da sua carreira.
A importância de Diego Armando Maradona
«Quando era jovem costumava ver o Diego na televisão do meu quarto. E de um momento para o outro estava ali com ele, a tomar o pequeno almoço, a treinar, a partilhar o balneário… Incrível»
«Foi lá que me tornei um atacante importante», admitiu Suker numa entrevista ao El País.
Após uma temporada de estreia modesta – nove golos em 26 jogos – a segunda foi de explosão e muito por culpa de El Pibe. Esse mesmo. Diego Armando Maradona. Davor já era um goleador de excelência, mas tornou-se ainda mais exímio no frente a frente com os guarda-redes adversários dos conselhos do argentino.
«Maradona dizia-me: ‘Não quero que olhes para os lados ou para qualquer outro lugar. Cabeça para baixo e corre em direção ao guarda-redes. Eu entrego-te a bola lá e tu só tens de finalizar’. Poucos jogadores podiam dizer aquilo com aquela certeza. Foram palavras que me acompanharam para sempre e basta olhar para aquilo que fiz em Sevilla», confidenciou the Sukerman.
Noventa golos em 170 jogos era um bom cartão de visita para um novo capítulo. De Sevilla a Madrid. Mas antes uma demonstração de enorme respeito pelo clube que o recebeu numa altura de mudança.
O sonho em Madrid
Durante a minha infância, tinha dois sonhos: jogar no Real Madrid e jogar em Wembley» - Suker
Alugou um jato privado e regressou a Espanha para um último adeus. E que despedida! Orientado pelo português Toni, o Sevilla venceu o Salamanca (3x1), na última jornada do campeonato espanhol, e Suker marcou os três golos antes de ser carregado em ombros pelos Nervionenses. Aí sim, estava pronto para ajudar a Croácia no Campeonato da Europa e para o salto para a capital espanhola.
Encarado como uma contratação prioritária, depois de uma temporada completamente falhada do Real Madrid – 6.º classificado na La Liga -, Suker reforçou os merengues no mesmo ano em que Roberto Carlos e Seedorf foram resgatados para o projeto. Na primeira temporada, marcou 24 golos em 38 jogos e ajudou o Real a ser campeão. No ano seguinte conquistou a Liga dos Campeões, numa caminhada em que fez dois golos ante o FC Porto (4x0). Com Predrag Mijatović e o então jovem prodígio Raúl González, formou um dos trios mais devastadores da Europa do futebol no final da década de 90.
Tudo isso valeu-lhe mais uma temporada em Madrid, mas foi perdendo estatuto dentro das quatro linhas, ganhando antes fama na imprensa cor-de-rosa em virtude do romance do Ana Obregon, que acabou por desgastar muito a sua imagem nos media.
Inglaterra e o fim na Alemanha
Conhecida a sentença em Madrid, Davor Suker recebeu várias e tentadoras propostas de campeonatos secundários, mais concretamente da Turquia e Grécia, onde o salário proposto era claramente superior à exigência futebolística. Rejeitou. Aos 32 anos, o avançado croata aceitou o desafio desportivo do Arsenal de Wenger.
Embora não sendo um titular indiscutível, pois havia a concorrência de Bergkamp, Henry e até de Kanu, Suker marcou 10 golos nos 15 jogos em que foi primeira escolha. Uma relação impressionante com a baliza. Ainda assim, a aventura pelos gunners durou apenas uma temporada, seguindo no ano seguinte para o vizinho West Ham, antes de terminar a carreira na Alemanha, em 2003, ao serviço do 1860 München, no mesmo ano em que foi considerado o melhor jogador da história da Croácia.
De goleador a presidente e às polémicas
Depois de pendurar as chuteiras, Suker abriu escolas de formação em Zagreb, até que, em 2012, aceitou o convite para assumir os destinos da Federação Croata de Futebol. A outrora glória croata, nomeado melhor de todos os tempos no seu país, passou para a direção do futebol da Croácia. E com algumas controvérsias à mistura.
Se durante o percurso enquanto jogador já tinha estado envolvido em polémica, nomeadamente quando foi, em 1996, fotografado na companhia de dois criminosos ao lado do túmulo do ditador fascista croata Ante Pavelic, ex-líder da Ustashe, grupo que defendeu uma Croácia etnicamente ‘pura’ e foi responsável pela morte de centenas de milhares de sérvios, judeus e ciganos no país, como presidente também somou alguns casos.
The Sukerman foi figura de proa de uma nação emancipada, estrela maior nos primeiros passos de uma seleção no cenário internacional. Ao longo de toda a sua carreira, Suker mostrou que a Croácia podia ser uma inspiração para todos os outros povos, tendo construído uma carreira ímpar na história do desporto. E isso, apesar de todas as polémicas extra-futebol, é inegável.