placardpt
    História
    Jogadores

    Paul Breitner: A Esquerda Rebelde

    Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
    l0
    E0

    Não era grande em altura, ou particularmente forte a nível físico como grande parte dos seus companheiros, mas não foi isso que impediu Paul Breitner de viver uma carreira de grande nível.

    Começou como avançado, foi campeão da Europa e do Mundo como defesa, e fixou-se como médio nos melhores anos da sua carreira. Foi dos melhores e mais versáteis na história do jogo, e uma grande influência para os defesas laterais que surgiriam no futebol bem depois da sua era.

    É um dos grandes nomes do futebol alemão, por tudo aquilo que alcançou tanto na Bundesliga como na mannschaft, e até mesmo fora do campo.

    O primeiro Bayern demolidor

    Breitner surge no futebol profissional em março de 1970, como parte de um trio de nomes desconhecidos mas que acabariam por se tornar peças de relevo tanto no Bayern Munchen como a nível internacional. Em conjunto com Uli Hoeness e Rainer Zobel, Paul Breitner foi chamado a integrar a equipa principal do gigante bávaro a convite de Udo Lattek, o ex-treinador das seleções jovens alemãs que acabara de assumir o comando técnico do campeão em título da Bundesliga, que nesse momento estava em segundo lugar na prova.

    Com apenas 18 anos, Breitner aceitou a proposta, vendo-se obrigado a interromper os seus estudos universitários, mas a oportunidade de assinar um contrato profissional com uma das maiores equipas do país era demasiado boa para recusar. Juntou-se de imediato à equipa do Bayern, mas só se estreou no início da temporada seguinte, agosto de 1970, altura em que se estreia na primeira jornada da Bundesliga frente ao Stuttgart.

    Jovem Breitner na Baviera @Bundesliga
    Foi a visão de Lattek que permitiu a Breitner tornar-se numa das grandes surpresas do futebol alemão. O jovem chegou com rótulo de avançado goleador, mas o técnico adaptou-o a posições mais recuadas e encontrou um dos melhores defesas laterais da história do futebol. Pela esquerda, Breitner deu uma então nova visão daquilo que é ser um lateral, ao contribuir muito para o futebol ofensivo da sua equipa apesar de, no papel, ser parte de um quarteto defensivo.

    O Bayern terminou a temporada 1970/71 em segundo lugar, novamente atrás do Borussia Monchengladbach, mas Breitner chegou a celebrar o primeiro título da sua carreira, com a conquista da DFB-Pokal por 2x1 frente ao Koln, antes de começar a entrar o sucesso nacional na Bundeliga. 

    Ainda jovem, mas já um internacional alemão e com muito impacto na equipa do Bayern Munchen, Paul Breitner foi titular indiscutível na equipa que conquistou três Bundesligas consecutivas em 1972, 1973 e 1974, mas foi antes de vencer a terceira que viu a sua continuidade no clube em risco, pela conduta que levava fora dos relvados.

    Não era que Breitner arranjasse algum tipo de sarilhos extra-futebol, era simplesmente uma pessoa altamente política, com uma tendência semelhante à que tinha em campo nessa altura da sua carreira: muito à esquerda. Posou com O Livro Vermelho, de Mao Tsé-Tung, como uma maneira simples e eficaz de se posicionar como um admirador de, por exemplo, nomes como Che Guevara. Aliado a isto vinha uma facilidade com as palavras, tanto para o bem como para o mal, que não foi motivo de sorrisos para Wilhelm Neudecker, o notavelmente conservador presidente do Bayern.

    O dirigente quis vender Breitner, mas a equipa não gostou da ideia e revoltou-se contra a intenção do presidente, que em resposta deixou o lateral esquerdo ficar: uma decisão que se revelou proveitosa. Nesse ano o Bayern não só foi tricampeão alemão como foi também, pela primeira vez na sua história, campeão continental, ao vencer o Atlético Madrid por 4x0 na final da Taça dos Campeões Europeus.

    Campeão da Europa e do Mundo

    A impressionar no Bayern, Breitner foi chamado a representar os sub-23 da Alemanha em 1971, com 19 anos, mas só precisou de jogar uma vez para atrair a atenção de Helmut Schon, o selecionador alemão que no mesmo ano deu a estreia ao jovem lateral numa vitória por 1x7 em Oslo, frente à Noruega.

    Rapidamente tornou-se numa das opções regulares na faixa esquerda da Mannschaft, assegurando a convocatória para o Euro 1972, disputado na Bélgica, que os alemães acabariam por vencer. Não era indiscutível nessa altura (aliás, fez apenas dois jogos no total da prova) mas foi titular na final frente à União Soviética, que a Alemanha venceu por 3x0 para levantar o troféu.

    Seguir-se-iam dois anos de grande importância para Breitner a nível de clubes, tornando-se numa das estrelas da melhor equipa do país e campeão da europa a nível de clubes antes de ser novamente chamado para um torneio internacional: O Mundial de 74, disputado na República Federal Alemã.

    Ao lado de Gerd Muller, na final do Mundial de 74 @Getty / Getty Images

    Convocado e com um estatuto muito maior do que detinha na seleção dois anos antes, Breitner foi titular indiscutível na caminhada da mannschaft até à final do Campeonato do Mundo que disputava em casa. Abriu o marcador no primeiro jogo da prova e marcou o seu terceiro e último golo seis jogos mais tarde, na final, empatando o jogo frente à Holanda antes da vitória caseira chegar.

    A festa foi grande para a equipa e para o jogador que estava entre os grandes nomes dessa edição da maior prova futebolística do mundo, mas as celebrações foram interrompidas por um corte de relações entre Breitner e Schon, que culminou com o lateral esquerdo a abandonar a seleção alemã.

    A segunda final do Mundial acabou em derrota @Getty / Tony Duffy
    Voltaria muitos anos depois, em 1981, quando a mannschaft mudou de selecionador, e foi a tempo de disputar em 1982 o seu segundo Campeonato do Mundo. Novamente como titular, levou a Alemanha até à final onde se tornou um dos poucos jogadores na história do futebol a marcar em duas finais de Mundiais distintos, mas dessa vez a Alemanha não venceu (Itália), e Breitner nunca mais vestiu essa camisola branca.

    Alemão de blanco

    Campeão europeu pelo Bayern e do Mundo pela sua seleção em poucos meses, sempre como peça fulcral nas conquistas, Paul Breitner era uma estrela no mundo do futebol e por esse motivo fez o que as mais brilhantes estrelas da galáxia fazem: juntou-se ao Real Madrid.

    Custou cerca de três milhões de marcos para levar o alemão para a capital espanhola, onde lhe esperava um salário anual de 350 mil marcos. Ao contrário de Lattek, que viu em Breitner um avançado capaz de jogar na defesa, o técnico dos blancos Miljan Miljanic quis usar o seu novo reforço não como defesa esquerdo, mas no meio campo.

    Breitner e Netzer, a dupla germânica @Real Madrid CF
    Ao lado do compatriota Gunter Netzer, que se juntara ao Real Madrid um ano antes, Breitner formou uma dupla impressionante no centro do terreno, que geria o ritmo de qualquer jogo a seu bel-prazer, ora acelerando, ora arrefecendo, conforme as necessidades e o momento.

    O primeiro ano em Espanha foi de sucesso, com os merengues fizeram a dobradinha ao vencer o campeonato e a Copa del Rey com o novo reforço no centro de tudo. O segundo ano viu o título de campeão espanhol repetido, com a queda na Taça dos Campeões Europeus a surgir nas meias finais, às mãos do... Bayern.

    O terceiro ano em Madrid foi de longe o pior, e talvez por isso tenha sido o último para Paul Breitner. A equipa de Miljanic terminou em nono lugar na La Liga, apenas quatro pontos acima dos lugares de despromoção, e o técnico foi despedido. Quem saiu também foi Breitner, que voltou ao futebol alemão.

    Regresso a casa em estilo

    Depois de três anos em Espanha, o regresso à Alemanha era a melhor solução para a carreira de Paul Breitner, mas o problema era encontrar uma equipa capaz de pagar os 1,5 milhões de marcos que o Real Madrid exigia para libertar o jogador.

    Esteve um ano no Eintracht @Getty / Werner OTTO
    A exceção foi o Eintracht Braunschweig, que conseguiu a preciosa ajuda do seu patrocinador (a célebre bebida Jagermeister) para reunir os fundos e garantir a contratação do jogador que se tornou o mais caro na história do clube, tanto a nível da transferência como de salário.

    A nível individual correu tudo bem. Breitner marcou 11 golos em 37 jogos, o seu melhor registo até aí na sua carreira, mas nunca encaixou verdadeiramente no ambiente do clube, de maneira que os responsáveis não hesitaram a oportunidade de lucrar com a venda do jogador, após uma boa proposta do Bayern Munchen.

    Um ano depois de regressar à Alemanha, estava confirmado o regresso a casa para Breitner, que estava assim de volta ao clube onde se deu a conhecer ao mundo do futebol. Marcou 13 golos no ano de regresso e no segundo ano, sob o comando de Pal Csernai, Breitner tornou-se capitão de equipa e levou os bávaros à conquista do primeiro título da Bundesliga desde o ano em que saíra do clube, seis temporadas antes.

    16 golos no ano de campeão, 18 no ano seguinte, com o título da Bundesliga defendido com sucesso e o alemão a conquistar o prémio de melhor jogador da prova, mas o sucesso não ficou por aí. Ficou em segundo, atrás de Rummenige, na hora de ser eleito melhor da Europa, mas na época seguinte aumentou o registo goleador uma última vez, alcançando a marca dos 28 tentos numa temporada, ficando em branco na final da Taça dos Campeões Europeus que o Bayern perdeu frente ao Aston Villa.

    A época de 1982/83 ficou marcada pelo grande número de lesões que afetaram Paul Breitner, que decidiu que estava a viver o momento certo para terminar a sua carreira enquanto futebolista.

    D

    Fotografias(17)

    Comentários

    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    Breitner
    2021-09-05 18h49m por VerdadePura
    lembro-me dele no União da Madeira há uns anos e depois no Leixões ainda esteve melhor. Bom jogador venezuelano da escola do Santos que teve de terminar a carreira ainda jovem. . .
    Tópicos Relacionados