No seu primeiro jogo na competição, nova goleada (8x0) e um onze composto só por escoceses, num prenúncio da preponderância que os vizinhos do norte teriam na história do clube.
Com a chegada do treinador Tom Watson, o clube abandonou o primeiro equipamento azul-e-branco e passou a vestir de camisola vermelha e calções brancos, ganhando rapidamente a alcunha de «reds» [vermelhos].
O sucesso foi imediato e a equipa ganhou o campeonato da 2ª Divisão, regressando à 1ª Divisão, onde nunca mais voltou a ficar abaixo do oitavo lugar.
Em 1964, quando os seus conterrâneos conquistavam os charts do outro lado do Atlântico, os «reds» conquistavam novamente a Liga e passavam a usar o famoso equipamento todo vermelho.
A era de Pasley, a glória sem limites
Bruce David Grobbelaar, natural da África do Sul, mas internacional pelo Zimbabué, defendeu a camisola do Liverpool durante 14 épocas
A era de Pasley seria a mais brilhante da história do
Liverpool. Durante os nove anos do seu reinado, o clube tornou-se na maior potência da Inglaterra e do Continente.
Durante nove épocas, os vermelhos conquistaram dezoito troféus, transformando Pasley num dos mais bem-sucedidos treinadores de um clube inglês de todos os tempos.
Contudo, na sua primeira época ao leme do
Liverpool não conquistou nada. Num perfeito exemplo da exceção à regra do que seria o reinado de Pasley, o vencedor.
Seis Ligas Inglesas, três Taças dos Campeões, uma Taça UEFA e a cada época as vitrinas de
Anfield brilhavam ainda mais com cada nova conquista.
Keegan, Dalglish, Souness, Rush, Whelan, Neal, Lee, Clemence e os irmãos Kennedy transformaram o
Liverpool num colosso europeu e o domínio dos reds só tem rival em vitórias e assombro provocado nos adversários com o domínio do
Real Madrid no fim dos anos 50 e com era dourada do AC
Milan, no inicio da década de 90.
O fim do sonho europeu e a tragédia de Heysel
Em 1984, Joe Fagan substituía o retirado Pasley, ascendendo a treinador oficial e o clube continuou a conquistar vitórias, sagrando-se campeão inglês e europeu (pela quarta vez no seu historial).
Um ano mais tarde, voltou a conquistar a Liga, mas a Taça dos Campeões foi perdida para a
Juventus. E nesse fim de tarde em Bruxelas, a história do
Liverpool viveria a sua hora mais triste, quando os seus adeptos, que tanto tinham ajudado na ascenção do clube provocaram um desastre invadindo a bancada onde estavam os adeptos italianos provocando 39 mortes, que transformaram o Heysel num sinónimo de mortandade...
Kenny Dalglish foi o homem que se seguiu no leme de
Anfield. Entre 1985 e 1991, os reds conquistaram mais nove troféus, demonstrando ser a maior potência inglesa. Mas o castigo imposto pela UEFA ao
Liverpool e restantes clubes ingleses afastou esta grande equipa dos palcos europeus, castigando a capacidade do futebol inglês e dos seus clubes de não controlarem o fenómeno do hooliganismo.
Hillsborough: o mais triste virar de página
A
15 de Abril de 1989, em Hillsborough, Sheffield, antes da meia-final da taça que oporia o
Liverpool ao Nottingham Forest, novo desastre manchou a sangue o nome do clube, quando os adeptos que estavam fora do estádio alegadamente tentaram forçar a entrada, provocando 94 mortes (1), além de centenas de feridos, vitimas do excesso de espetadores na bancada, que com o seu peso esmagaram os adeptos que se encontravam à frente contra as grades. Contudo, esta era a história que as
autoridades e a imprensa quiseram vender ao mundo (2).
Este foi um ponto de viragem no futebol inglês e o inicio do fim do predomínio do
Liverpool em Inglaterra, pois, no ano seguinte, os vermelhos conquistaram o seu 18º título inglês e iniciaram um longo jejum...
Seguiram-se no banco Souness e Roy Evans, que entre 1991 e 1998 conquistaram apenas uma
FA Cup e uma Taça da Liga. Gérard Houllier recuperou algum do prestigio do
Liverpool conquistando seis troféus, mas a Liga continuou a ser apenas uma miragem.
Houlllier e Benítez e o regresso em grande à Europa
Steven Gerrard, capitão e símbolo do Liverpool no século XXI
Em 2001, a conquista da Taça UEFA, numa histórica vitória por 5x4 sobre os espanhóis do Alavés, relançou o clube na Europa, mas o grande feito estava guardado para uma noite em Istambul, onde o
Liverpool conseguiu conquistar a sua quinta Liga dos Campeões, depois de ter estado a perder por 0x3 ao intervalo com o AC
Milan.
Os comandados de Benítez, que tinha chegado a
Liverpool um ano antes, venceram a partida no desempate por grandes penalidades, depois do 3x3 final.
Depois de Istambul, o espanhol ainda conquistou mais três troféus para o museu do clube, conseguindo ainda levar o clube a uma segunda final da Liga dos Campeões, novamente com o AC
Milan, mas desta vez com outro resultado (1x2).
Sem conseguir ganhar o campeonato, que afinal era o grande objetivo do clube, Benítez foi substituido por Roy Hodgson, que contudo foi incapaz de devolver o clube à glória, tornando-se o primeiro treinador do
Liverpool desde a
II Guerra Mundial a abandonar o clube sem conquistar um troféu.
No começo da nova década chega Brendan Rodgers e com ele um ressurgimento dos
reds. Após uma época sem apuramento para as competições europeias, o
Liverpool pôde centrar-se nas competições internas. Com Gerrard na liderança, a equipa voltou a lutar pelo título, mantendo uma luta taco-a-taco com o multimilionário
Manchester City até ao fim. Sturridge, Sterling e Suárez eram sinónimo de golo e o sonho de quebrar o jejum de títulos só esmoreceu nas últimas jornadas.
Nessa mesma temporada de 2013/14, o
Liverpool esteve a uma unha de distância de se sagrar campeão 24 anos depois. Após uma espetacular vitória (
3x2) num jogo épico frente aos cityzens, havia um novo grande obstáculo: o
Chelsea de José Mourinho, que estava arredado da luta pelo título. Os
reds só dependiam de si próprios e acabaram por não conseguir furar a muralha defensiva do adversário. Para a história ficou o escorregão do capitão e o golo de Demba Ba que deu de bandeja o troféu... ao
Manchester City (
2x0).
A queda de Rodgers e a era de Jürgen Klopp
Na temporada seguinte, um autêntico fracasso. Em termos desportivos, 2014/15 foi para esquecer. Prestação desapontante na Liga dos Campeões - caiu na fase de grupos -, sexto lugar na
Premier League, 16 avos na Liga Europa e meias-finais em ambas as Taças.
Em 2015/16, mais do mesmo. Um arranque terrível que sentenciou por completo a passagem de Brendan Rodgers pelo leme da equipa. O norte-irlandês acabou despedido em outubro e deu lugar a Jürgen Klopp, alemão que, ao serviço do
Borussia Dortmund, havia surpreendido o mundo do futebol. A época esteve longe de a ideal - terminou como 8º no campeonato -, mas o Klopp conseguiu, no meio de tantas contrariedades, levar o
Liverpool à final da Liga Europa - perdeu de forma dececionante frente ao Sevilha (
3x1) - e à final da Taça de Inglaterra, perdida para o City (
1x1 - 1x3 g.p).
O clímax com o alemão no comando chegou em 2017/18. Na Liga, o 4º lugar manteve-se - na época transata alcançou a mesma posição -, mas ficou para a história uma memorável campanha na Liga dos Campeões que só terminou na final diante do
Real Madrid (
3x1). Uma exibição menos positiva de Loris Karius e os golos de Benzema e Gareth Bale deram o troféu aos madrilenos.
Esta derrota europeia não deitou abaixo os reds, que continuaram a crescer desde aí e seguiram-se duas temporadas de sonho em
Anfield. Primeiro, em 2018/19, chegou a «vingança», com o
Liverpool a conseguir mesmo a conquista da Liga dos Campeões, após vencer o
Tottenham por
0x2 no Wanda Metropolitano, em
Espanha. A isto juntaram ainda um Mundial de Clubes na temporada seguinte, ao derrotarem o Flamengo, na altura treinado por Jorge Jesus, na final por
1x0, no prolongamento.
Apesar desta glória a nível internacional, a nível interno a história foi outra nessa época, com o
Liverpool a terminar em 2º lugar, a apenas um ponto do
Manchester City, num campeonato que foi disputado até à última jornada, mas onde a turma de
Anfield falhou o tão aguardado regresso ao título de campeão inglês. Depois de ter morrido na praia, a temporada seguinte foi outra história.
O título regressou a Anfield em 2019/20 @Getty /
Em 2019/20, ano de explosão da pandemia de covid-19 no mundo inteiro, o
Liverpool não deu hipóteses a ninguém e acabou por celebrar o tão aguardado título de campeão inglês que escapava há mais de 20 anos. A equipa comandada por Jurgen Klopp acabou o campeonato com mais 18 pontos que o City de Pep Guardiola e celebrou a várias jornadas do fim. Um feito de tal ordem que nem a pandemia impediu os adeptos do
Liverpool de saírem e encherem as ruas das cores do clube, celebrando o regresso ao trono da
Premier League.
O bicampeonato ficou por conquistar, numa temporada em que os
reds sofreram inúmeras lesões graves em elementos importantes do plantel principal, mas isso não nega o ressurgimento do
Liverpool sob o comando de Jurgen Klopp. O gigante inglês, indubitavelmente um dos melhores clubes do Mundo, voltou a afirmar-se como tal e dificilmente será travado. Em
Anfield e por todo o Mundo, um gigante que não caminha só.
Prova disso é que na temporada seguinte os reds estiveram perto de conquistar «tudo» o que havia por conquistar. Foram «felizes» na
FA Cup e Carabao Cup, as taças inglesas, e por pouco não o foram no campeonato e Liga dos Campeões. Na
Premier League, numa das edições mais disputadas dos últimos anos, os comandados de Jurgen Klopp lutaram até à última jornada com o
Manchester City, mas, no final, acabaram por ser os cityzens, comandados por Pep Guardiola, quem levaram a melhor e foram campeões com mais um ponto que os seus «rivais». Na Liga dos Campeões, por sua vez, em Paris, o
Real Madrid levou a melhor na grande final e venceu por
0-1, conquistando a sua 14ª
Champions.
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(1) - Um total de 94 pessoas perdeu a vida nesse dia, ou no Estádio de Hillsborough, ou na ambulância, ou pouco depois de ter chegado ao hospital. A 19 de abril a lista de de mortos ascendeu a 95 com a morte de Lee Nicol, um rapaz de 14 anos que ficara ligado à máquina de suporte de vida e que não resistiu mais às lesões. Em março de 1993, a lista ascendeu a 96 baixas, com a morte de Tony Bland, a quem foi retirado o suporte de vida, depois de quatro anos em estado vegetativo.
(2) - Em 2012, o Hillsborough Independent Panel «limpou» a memória dos adeptos falecidos, demonstrando publicamente que a culpa do desastre não fora dos adeptos, mas sim do comportamento das autoridades que foram incapazes de lidar com a situação. Tanto a Federação que vendera bilhetes a mais, como a incompetência das forças de segurança, acabaram por ser branqueados pelas autoridades que juntamente com a imprensa, esconderam provas e ajudaram a propagar a ideia que a culpa tinha sido dos adeptos.